NASCIMENTO DO ALEIJADINHO, CONTROVÉRSIAS E DOCUMENTOS

 A data de nascimento do Aleijadinho é motivo de controvérsia entre todos os pesquisadores e historiadores do artista   e divergem em quase todos os livros escritos sobre ele. Somente o IPHAN tem em torno de 1200 livros cadastrados. O motivo de toda essa polêmica se fundamenta basicamente   nas certidões de nascimento e óbito dos arquivos da Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Ouro Preto onde o Aleijadinho foi batizado e sepultado.

A seguir transcrevo as certidões e observações pessoais a respeito do assunto.

REGISTRO DE BATISMO – DESAPARECIDO DESDE 1966

“Aos vinte e nove dias do mês de Agosto de mil setecentos e trinta nesta Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição com licença Minha Baptizou o Rdo. Pde. João de Brito a Antonio f.o de Izabel  escrava de Manoel Francisco da Costa do Bom Sucesso e lhe pôs logo os St. Os óleos e deu o d. Seo Senhor por forro, foi padrinho Antonio dos Reys, de que fis este assento Dª Sª – O vigário Felix Simões de Payva.”

OBSERVAÇÃO

 Creio que, aqui, o Manoel Francisco da Costa do Bom Sucesso seria o mesmo que Manoel Francisco Lisboa da Encosta do Bom Sucesso. Encosta do Bom Sucesso era o local onde morava o pai do Aleijadinho. O escrivão preferiu suprimir o agnome Lisboa e se referiu ‘a encosta onde morava o pai do Aleijadinho, talvez para evitar erro devido a tantos homônimos que havia na antiga Vila Rica. Dessa forma, pensou definir melhor   a paternidade correta do Aleijadinho.

 

REGISTRO DE ÓBITO

Aos dezoito de novembro de mil oitocentos e quatorze (1814), faleceo Antonio Francisco Lisboa, pardo solteiro, de setenta e seis anos, com todos os Sacramentos encomendado e sepultado em cova da Boamorte epara clareza fiz passar este assento e que me assigno.

O  Coadjutor José Carneiro de Moraes.

OBSERVAÇÃO

Na distância desses acontecimentos, e como acontecia em outras situações semelhantes, pode-se deduzir    que o escrivão ao redigir o atestado de óbito não teve o cuidado de conferir a Certidão de Batismo que é de 1730. Certamente, no momento do sepultamento, perguntou a alguém a idade do Aleijadinho que lhe forneceu essa idade de 76 anos. De acordo com a Certidão de Batismo o Aleijadinho tinha 84 anos e não 76 anos.

 

O ALEIJADINHO REVELADO

 O   eminente Promotor de Justiça e respeitável pesquisador, Dr. Marco Paulo de Souza Miranda em busca para o seu livro “ O Aleijadinho Revelado” encontrou nos assentos religiosos da Matriz de Antônio Dias uma outra certidão de batismo que entendeu ser a do Aleijadinho.

 

NOVA CERTIDÃO BATISMO,IPSIS LITTERIS

 Aos vinte e seis dias do mês de junho de mil esetecentos etrinta esete( 1737 )  nesta matriz de Nossa Senhora da Conceição de Vila Rica bautizei e pus os santos óleos a Antonio filho de Izabel preta forra foram padrinhos Mel Luiz e Antonia Correa preta forra de que fis esse assento dia Ut sª

O Pe. Coadjutor Nicolau Barreto Gusmão.

OBSERVAÇÃO

Creio que essa certidão, embora corrobore com a Certidão de Óbito do Aleijadinho, não se refere ‘a dele. Nela não temos o nome do pai do Aleijadinho. Um escrivão jamais omitiria a paternidade do nome do pai do Aleijadinho sabendo que o mesmo   era nome respeitável na cidade como perito e arquiteto. Aqui se trata de um homônimo, certamente, em que o escrivão omitiu a paternidade.

 JUDITH MARTINS

A respeitável historiadora Judith Martins na relação, abaixo, dos trabalhos de Aleijadinho, comprovados por documentos dos arquivos cita, como primeiro, realizado em 1752, o risco dos dois chafarizes localizados no pátio interno do antigo Palácio do Governadores.

 

RELAÇÃO DAS OBRAS DO ALEIJADINHO COM DATAS DE FEITURA E DOCUMENTAÇÃO COMPROVADA SEGUNDO A HISTORIADORA E PESQUISADORA JUDITH MARTINS

1752 – Risco de um chafariz no Palácio do Governadores, em Ouro Preto.

1757 – Risco do chafariz do Padre Faria do Alto da Cruz (Piçarrão).

1761 – Escultura de um busto feminino, em pedra-sabão, no frontão do mesmo chafariz.

1761 – Feitura de uma mesa de jacarandá preto, com gavetas e dois bancos torneados, em Ouro Preto (recibos com a assinatura do Aleijadinho: (23\02\1761).

1770 – (2º semestre): Trabalhos não especificados na, Igreja do Carmo de Sabará.

1771 – (8 de março): Louvado das obras da Igreja de Carmo, de Ouro Preto.

1771 – (18 de março): Parecer sobre o projeto da capela-mor da matriz de São Manoel, de Rio Pomba.

1771 – (25 de novembro): Risco e planta da Casa de Açougue, em Ouro Preto.

1772 – (12 de fevereiro): Esculturas dos tambores ogivais dos púlpitos (episódios bíblicos, em esteatita) da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1772 – (5 de agosto): Modificações do risco da fachada da Igreja de São José, de Ouro Preto.

1773 – (20 de julho): Risco do retábulo da capela-mor da Igreja de São José, de Ouro Preto.

1773-1774 – Recebeu dois pagamentos por “ Jornais no Barrete “ da capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1774 – (1º semestre): Trabalhos não especificados na Igreja do Carmo, de Sabará.

1774 – (8 de julho): Risco da Igreja de São Francisco de Assis, de São João Del Rei.

1774-1775 – Projeto da atual portada da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1775 – (23 de junho): Risco da nova capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1777 – (1º semestre): Revisão do Projeto da capela-mor da Igreja das Mercês e Perdões, de Ouro Preto.

1778 – Verificação final da obra, na Igreja das Mercês e Perdões, de Ouro Preto.

1778 – (1º semestre): Avaliação das obras executadas pelo mestre de obras Tiago Moreira, na Igreja do Carmo, de Sabará.

1778-1779 – Risco da tribuna do altar-mor da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1779 – (1º semestre): Feitura das imagens, em tamanho natural, de São Simão Stock e São João da Cruz, da Igreja do Carmo, de Sabará.

1779 – (1º semestre): Planta das grades da Igreja do Carmo, de Sabará e pela viagem para averiguação de madeira para a obra.

1781 – (1º semestre): Trabalhos não especificados na Igreja do Carmo, de Sabará.

1781 – (1º semestre): Ajustou a obra das grades (balaustrada em jacarandá) co corpo e do coro da Igreja do Carmo, feituras dos púlpitos, portas principais e soalho das campas da mesma Igreja do Carmo, de Sabará.

1782 – (1º ou 2º semestre de 1781): Recebeu como mestre de obras.

1783 – (1º ou 2º semestre de 1782): Recebeu pelo mesmo serviço.

1785 – (4 de junho): Louvado das obras arrematadas por Miguel Gonçalves de Oliveira, na Matriz de São João Batista do Morro Grande (atual Barão de Cocais), de Barão de Cocais. Risco da mesma igreja, segundo o vereador de Mariana, Joaquim José da Silva.

1785 – (11 de setembro): Trabalho posto em dúvida (risco), na Igreja de São Francisco de Assis, de São João Del Rei.

1789 – (29 de abril): Feitura das pedras d’ara da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1790 – (18 de outubro): Ajuste da obra do retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1790 – (21 de outubro): Recebeu pelo ajuste feito (anterior).

1791 – (18 de janeiro, 19 de março e 24 de outubro): Recebeu por trabalho no retábulo anteriormente citado. Os recibos foram datados em Rio Espera.

1792 – (janeiro, 10 de julho e 2 de outubro): Recibos pela mesma obra, datados de Rio Espera.

1792 – (22 de dezembro): Recibo pela mesma obra, em Ouro Preto.

1793 – (25 de fevereiro, 20 de março, 7 e 23 de abril, 19 de maio, 10 de junho, 3 de julho, 12 de agosto, 4 de setembro, 13 de outubro, 6 de novembro, 3 e 31 de dezembro): Por trabalhos no retábulo da capela-mor da Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1794 – (24 de agosto): Recibo, como louvado, com José Pereira Arouca, na Igreja de São Francisco de Assis, de Ouro Preto.

1796 a 1799 – Recebeu pelas esculturas, em madeira, das imagens dos Passos da Paixão, de Congonhas do Campo.

1800 a 1802 – Recebeu por esculturas, em esteatita, de imagens dos profetas, no adro do Santuário, em Congonhas do Campo.

1804 – Recebeu pela feitura da caixa do órgão do Santuário, em Congonhas do Campo.

1805 – Recebeu pela feitura das imagens dos profetas no segundo adro do Santuário, em Congonhas do Campo.

1806 – Recebeu por feitura de “ lâmpadas” para a capela do Senhor, em Congonhas do Campo.

1807 – (20 de maio): Altares de São João e de N. Sra. Da Piedade, da Igreja do Carmo, de Ouro Preto.

1808 – Recebeu pela feitura de castiçais, em Congonhas do Campo.

1808 – (20 de outubro): Concluídos os Altares de São João e de N. Sra. Da Piedade.  Inicia Obras nos Altares de Santa Quitéria e Santa Luzia, da Igreja do Carmo, de Ouro Preto.

1809 – (4 de janeiro): Conclusão do Altares de Santa Quitéria e Santa Luzia, da igreja do Carmo, de Ouro Preto.

1810 – Risco do frontispício da Igreja Matriz de Santo Antônio, de Tiradentes.

 

PALÁCIO DOS GOVERNADORES

OBSERVAÇÃO

O histórico, abaixo, referente ao Palácio dos Governadores, publicado pelo   IPHAN, a respeito do risco dos chafarizes reafirma a autoria do Aleijadinho citada na relação da historiadora Judith Martins: Os dois chafarizes de cantaria do Itacolomi, ainda existentes na área interna do antigo Palácio, foram contratados por Manoel Francisco Lisboa, em 1752, sendo autor do risco Antônio Francisco Lisboa.

Descrição do IPHAN: O Palácio dos Governadores foi construído no mesmo local onde funcionou anteriormente a Casa de Fundição e Moeda. Coube ao Governador Gomes Freire de Andrade, em 1735, a iniciativa de mandar adaptá-la à sua nova função. Entretanto, foram realizadas à época apenas algumas obras provisórias de adaptação da antiga construção, ainda em pau-a-pique. A nova edificação, em pedra e cal, tem início a partir de 1741, obedecendo ao projeto encomendado por Gomes Freire de Andrade, ao engenheiro José Fernandes Pinto Alpoim. A obra principal foi arrematada no mesmo ano, com Manoel Francisco Lisboa. O material empregado nas obras, como a pedra de alvenaria, pedra de cantaria, cal de argamassa, mármore Ojô, telhas de barro, dentre outros, procedeu das localidades próximas de Ouro Preto. O término da obra principal deve ter ocorrido por volta de 1747, uma vez que os serviços de pintura foram arrematados naquele ano. Em 1746, Domingos Torres arrematou a feitura das Armas Reais, gravadas em pedra, de desenho de Francisco Branco de Barros, destinadas a encimar a portada do edifício, desconhecendo-se o destino dado à essa escultura. Sabe-se que depois de construído o Palácio, Gomes Freire de Andrade reinstalou a Casa de Fundição na parte térrea do próprio prédio, além da Contadoria e Junta da Fazenda, Casa do Corpo da Guarda e Secretaria do Governo. Em 1803, os serviços da Casa de Fundição e da Contadoria e a Junta da Fazenda transferiram-se definitivamente para a denominada Casa dos Contos. O Palácio dos Governadores serviu de moradia oficial a todo os governadores da capitania e província de Minas Gerais até 1898. Essa mesma casa hospedou, por duas vezes cada um, os dois Imperadores do Brasil. Com a mudança da capital do Estado para Belo Horizonte, em 1897, o prédio passou a ser sede da Escola de Minas e Metalurgia, criada em 1876, pelo Imperador Pedro II. Instalada no andar térreo do Palácio dos Governadores em 1892, a Imprensa Oficial do Estado ali permaneceu até 1898, quando se transferiu para a nova Capital. Primitivamente o prédio era composto por um quadrilátero central, cercado pelas muralhas, com terraços para artilharia, guaritas, saguão e outros complementos militares, à feição de uma fortaleza. Depois de tornado sede da Escola de Minas, o antigo Palácio dos Governadores foi objeto de várias modificações, tendo sido acrescido de inúmeras construções anexas. Segundo o historiador Diogo de Vasconcelos, modificou-se todo o edifício e 41 salões em ambos os pavimentos foram destinados aos laboratórios e máquinas. Os antigos pátios e o quintal, encheram-se de construções, onde foram colocadas máquinas para o ensino prático da metalurgia. Dos antigos terraços restaram apenas as guaritas como ornamento na frente do edifício. Trata-se de sólida construção assobradada, cuja rampa e muros enviesados, conferem, em consonância com o frontispício, um aspecto imponente à edificação. Implantada num terreno em declive e dominante, forma na frente um terraço e rampa de acesso reforçados por sólidos paredões em talude, tendo, nos quatro ângulos, baluartes com guaritas, cordão e parapeito. Apresenta cunhais e vãos em cantaria do Itacolomi, e porta principal em estilo toscano, de desenho simples e elegante, no gênero dos portais das casas fortes e fortalezas. A cornija que sustenta a janela, se apoia sobre o cordão da muralha. Na janela, destacam-se o caixilho sóbrio e moderno para a época, e a sacada de ferro à maneira portuguesa, arrematada em 1742 por Caetano Silva, cujo desenho é de Fernandes Pinto Alpoim. O edifício principal teve sua feição prejudicada pela interferência de um acréscimo lateral ( à direita da rampa de acesso ) que, avançando até a linha da fachada, quebra o seu equilíbrio. Esse acréscimo, feito em estilo colonial, deve ser posterior a 1911, pois não aparece na foto desse ano, publicada no livro “Bi-centenário de Ouro Preto- Memória Histórica”. Também do lado do Caminho das Lajes, o perfil do edifício foi prejudicado pela inserção de dependências e acréscimos, incompatíveis com sua arquitetura. Os dois chafarizes de cantaria do Itacolomi, ainda existentes na área interna do antigo Palácio, foram contratados por Manoel Francisco Lisboa, em 1752, sendo autor do risco Antônio Francisco Lisboa. A obra caracteriza-se pela solidez das obras de cantaria rústica do norte de Portugal, mas, segundo Lúcio Costa, esses chafarizes pouco guardam do desenho original. A capela do Palácio foi construída em época posterior a 1766, no terraço do baluarte direito, sabendo-se que naquele ano foi feito o desaterro do mesmo e que em 1781, Manoel Francisco de Araújo recebeu pagamento pela confecção do retábulo da capela. Para se ter acesso direto da rua para a capela, foi construído, em época não identificada, uma escadaria sobre arco. Com a instalação da Escola de Minas, a capela passou a servir de gabinete de mineralogia e seu altar e paramentos foram transferidos para o Colégio D. Bosco, de Cachoeira do Campo, retornando, entretanto, para o seu lugar de origem, em 1974, quando foram empreendidas pelo IPHAN as obras de reconstituição da capela. A adaptação do prédio para o funcionamento da Escola de Minas, acarretou no desaparecimento de um jardim de estilo romano, construído por iniciativa de D. Francisco de Assis Mascarenhas, Conde de Palma, que governou a Capitania de 1810 a 1814. Ficava nos fundos do Palácio, cercado por muros altos e tinha um chafariz de pedra talcosa. No alto do mesmo, havia uma pedra votiva com inscrição latina, consagrando o jardim a D. João VI. A pedra votiva e a figura pagã que ornamentava o chafariz, encontram-se no Museu da Inconfidência. No local do antigo jardim, existe atualmente o observatório astronômico. Uma das reformas do edifício resultou ainda no desaparecimento de uma escadaria de granito, que desenbocava na sala de entrada, cujo risco e execução eram de autoria do engenheiro Alpoim. Do mobiliário da época, restam apenas dois retratos dos Imperadores D. Pedro II e D. Maria Cristina, que ornavam a Sala do Dossel do Palácio. Pelo advento da República, esses dois retratos, em tamanho natural, executados em 1853, pelo pintor francês François Moreau, foram retirados do Palácio e cortados a faca. Depois de terem andado em posse de particulares, forma adquiridos pelo Museu da Inconfidência, onde se encontram atualmente. Nas salas de frente dessa Escola (hoje Faculdade Federal de Minas e Metalurgia) foi instalado um Museu de Mineralogia de caráter universal, cujo acervo é considerado um dos mais complexos e notáveis do mundo. Texto extraído de: Fundação João Pinheiro. Dossiê de Restauração. Plano de Conservação, Valorização e Desenvolvimento de Ouro Preto e Mariana. 1973/1975.

Uso Atual: Escola Nacional de Minas e Metalurgia da Universidade Federal de Ouro Preto

Endereço: Praça Tiradentes – Ouro Preto – MG

OS CHAFARIZES

 

OBSERVAÇÃO

Ora, se considerarmos a Certidão de Óbito do Aleijadinho, nascido em 1738, ele teria apenas 14 anos em 1752 ao receber pelo risco desses chafarizes. E, considerando a nova Certidão de Batismo encontrada pelo Dr. Marco Paulo, nascido em 1737, ele teria somente 13 anos em 1752. Creio que o seu pai Manoel Francisco Lisboa, responsável pela obra do referido Palácio dos Governadores jamais incumbiria o filho, ainda aprendiz de ofício, para um desenho de tamanha responsabilidade. Se nascido em 1730 conforme aponta a primeira Certidão de Batismo, o nosso artista teria 22 anos de idade em 1752, o que seria muito mais admissível e coerente considerando a importância e local para onde foram desenhados esses chafarizes.

Fui ao velho Palácio dos Governadores, por diversas vezes, estudar o desenho desses chafarizes. São iguais, os dois, obedecendo a um mesmo risco e ficam um de cada lado das escadarias internas do átrio que dão acesso ao piso superior do edifício. Na realidade, é visível, eles carecem de certa maturidade e leveza artística no desenho. Mesmo assim, rudes, não creio que o projeto tenha saído das mãos de um jovem de 13, 14 anos e nem que o pai do Aleijadinho o colocaria numa empreitada desse nível para um palácio de imensa visibilidade à época, na idade em que ele supostamente estaria se tivesse nascido em 1737 ou 1738.

RODRIGO JOSÉ FERREIRA BRETAS

A única biografia do Aleijadinho que nos chegou foi redigida por Rodrigo José Ferreira Bretas.  Na primeira versão de seu artigo bigráfico do Aleijadinho que se encontra no Arquivo da Arquidiocese de Mariana informava que o Aleijadinho havia nascido em 1738 tomando por base o Registro de Óbito de 1814 que diz que o artista tinha 76 anos. Posteriormente, para o texto definitivo, Bretas ratifica o ano de nascimento para 1730, exatamente como está explícito Certidão de Batismo do artista, elevando a sua idade para 84 anos ao falecer.

O texto publicado no Jornal Correio Official de Minas Gerais, de Ouro Preto, números 169 e 170, de 19 e 23 de agosto de 1858 intitulado “ Traços Biográficos Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa, Distinto Escultor Mineiro conhecido pelo Apelido de Aleijadinho “ inicia-se assim:

Antônio Francisco Lisboa nasceu em 29 de agosto de 1730 no arraial desta cidade que se denomina – o Bom Sucesso, pertencente ‘a freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias. Filho natural de Manoel Francisco da Costa Lisboa, distinto arquiteto, teve por mãe uma africana, ou crioula, de nome Isabel, e escrava do mesmo Lisboa que o libertou por ocasião de fazê-lo batizar…

RODRIGO JOSÉ FERREIRA BRETAS

(Tinha currículo e idoneidade indiscutível)

 Nascido em Cachoeira do Campo em 1815, forma-se em humanidades nos Colégios do Caraça e Congonhas do Campo e entre 1839 e 1844 leciona latim, filosofia e retórica em Barra Longa, Barbacena e Ouro Preto, além de ter sido nomeado Promotor Interino da Comarca. Entre 1846 e 1849 funda e dirige um colégio em Bonfim do Paraopeba; nomeado Oficial Maior da Secretaria do Governo da Província em 1850; eleito deputado provincial para o primeiro de quatro mandatos em 1852; publica um livro sobre as origens das ideias do espírito humano em 1854; agraciado com a nomeação de Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa em 1855; instala a Biblioteca Pública de Ouro Preto em 1859; nomeado Inspector da Instrução Pública em Ouro Preto em 1861; e em 1862 assume da direcção do Colégio de Congonhas. Além de professor e político Rodrigo Ferreira Bretas foi um eminente inventor. Faleceu em 1866.

OBSERVAÇÃO

Nessa biografia, publicada aqui no site, fica bem claro que o Aleijadinho nasceu em 1730. A única dúvida paira no nome do pai do Aleijadinho que vem acrescido do cognome Costa. Naturalmente o biógrafo ao se basear na Certidão de Batismo do Aleijadinho entendeu ser esse Costa um cognome e não o local (costa ou encosta do Bom Sucesso) onde residia o pai do Aleijadinho. Bretas acrescenta o Costa e em seguida Lisboa. Ele não teve dúvida nenhuma que o pai era Manoel Francisco Lisboa pois, em 1858, data da publicação e segundo o texto biográfico a nora do Aleijadinho ainda vivia. Certamente se informou com ela. Temos ainda que existem numerosos textos relativos a Manoel Francisco Lisboa que foram divulgados e nunca aparece o agnome da Costa. Nem na sua licença para o exercício da sua profissão de carpinteiro, datada de março de 1724, nem no seu ato de casamento de 7 de outubro de 1738, nem na inscrição do seu obituário da matriz da Conceição, a 7 de junho 1767, nem nos processos judiciais nos quais ele esteve metido, nem no inventário de sua morte (1768). Temos ainda vários documentos que nos foram conservados atestando seu nome sem o da Costa como perito (Louvado). Vejamos:

1745 – Pagaram –lhe duas oitavas por uma perícia feita para o Senado de Ouro Preto (Códice número 51 Receita e Despesa, folha 279 v.do Arc.P.Min.)

1747 – Manoel Francisco foi escolhido, como louvado, na arbitragem que devia ter lugar para resolver a questão que opunha duas irmandades da matriz de Catas Altas, a Irmandade do Santo Sacramento, administradora da obra, e de São Miguel e Almas, a respeito do retábulo construído por esta última. A escolha de Manoel Francisco Lisboa, como louvado nessa arbitragem é particularmente significativa, pois se trata de uma querela de ordem estética.

1751 – 9 de abril. Ele é louvado na matriz do Pilar pelo trabalho de um arco feito por Ventura Alves Carneiro (Livro de Termos da Mesa Santíssimo Sacramento da matriz do Pilar, folha 68).

1751 – 10 de Dezembro. Ele é louvado da obra de talha e do retábulo da capela-mor da mesma matriz (livro cit. folha 65 v.)

1753 – Manoel Francisco que é então qualificado de mestre das obras reaise de “ louvado para o tesouro real”, é chamado a Mariana, com Agostinho de Sá, a fim de julgar o valor das casas a comprar, com vistas à construção do palácio episcopal, e dar sua opinião sobre os trabalhos a serem feitos.

1755 –  13 de abril. Ele é louvado no contrato para a continuação da talha da capela-mor da matriz de Catas Altas, deixada inacabada por morte de Manoel Gonçalves Valente. A louvação teve lugar a 12 de outubro do mesmo ano.

1755 – 6 de julho. É chamado com diversos outros louvados a dar sua opinião sobre o estado do teto (zimbório) da capela-mor da matriz do Pilar, de Ouro Preto.

1756 – 10 de fevereiro. Louvado na louvação feita na entrega dos trabalhos do Rosário de Mariana.

1760 – 5 de fevereiro. Por indicações do Tesoureiro da Fazenda Real, Manoel Francisco é chamado pelo Governador Gomes Freire de Andrade a dar sua opinião, com avaliação, sobre a natureza dos trabalhos e estabelecimento do livro de encargos, em vista da adjudicação que deve ter lugar para a Sé de Mariana, e para as obras “relativas ao ofício de carpinteiro como também as de pedreiro”.

 

CONCLUSÃO

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, era filho de Manoel Francisco Lisboa com a sua escrava Isabel.

Nasceu em 29 de agosto de 1730 e faleceu em 18 de novembro de 1814.

 

Adendo

 

Nessa foto da imagem de Nossa Senhora do Rosário , abaixo, do nicho da fachada da Igreja de Santa Ifigênia de Ouro Preto , publicada recentemente no livro Tesouros de Minas,  de José Israel Abrantes,  foi um dado precioso que veio corroborar definitivamente a data , indubitável , de nascimento do Aleijadinho em 1730. Vejam que na foto, raridade nas obras do mestre, aparece a data de execução da escultura, na base,  em 1760. Se o Aleijadinho fosse nascido em 1737 como assevera o autor de O Aleijadinho Revelado , Dr Marco Paulo de Souza Miranda, ele teria apenas 23 anos de idade. O que não coincide de forma alguma com o trabalho espetacular dessa escultura. Obra, sem dúvida ,de um artista pleno de amadurecimento artístico com seus 30 anos completos. Portanto , nascido em 1730.

No ano seguinte, 1761, temos documentos, o Aleijadinho recebe pelo risco de um busto feminino em pedra-sabão para o frontão de um chafariz do Padre Faria do Alto da Cruz ( Piçarrão )  desenhado por ele mesmo em 1757.